Vencedores da edição 2019: Nathaly Felipe Ferreira e Rodrigo Luiz Pakulski Vianna.

Minibiografia
Nathaly Felipe Ferreira Alves nasceu em 1988, em Mauá, São Paulo, onde vive. É doutoranda em Teoria e História Literária pelo IEL/Unicamp, com bolsa concedida pela FAPESP. Possui artigos e ensaios, frutos de seu trabalho de pesquisa, publicados em revistas acadêmicas. Alguns de seus poemas inéditos foram divulgados, em junho de 2020, na revista gueto. Trabalhou com educação pública por nove anos e acredita em sua potência, mesmo com tantas dificuldades. É uma das ganhadoras do Prêmio Maraã de Poesia 2019, organizado pela editora Reformatório e idealizado por Osório Barbosa. Poemas Dissonantes, coeditado pelas casas editoriais Reformatório e Patuá, é seu livro de estreia.

Sinopse
Os Poemas dissonantes, de Nathaly Felipe, não temem a exploração de certos recursos que parecem fora de moda. Bastaria mencionar, por exemplo, o uso que faz da metáfora, propondo imagens como “sangue argamassa” e “braços pêndulos”, ou ainda o modo particular de propor certa sonoridade e distribuição dos versos. Da mesma forma, são versos que recuperam imagens e questões tradicionais da poesia: o voo e a queda, o silêncio, o mar, a voz, o tempo, a origem e a própria atividade poética. Trata-se, portanto, de uma poeta que pretende dialogar com a tradição não enquanto instância de legitimação ou força opressiva, mas como uma constelação que nos devolve aos dramas comuns de nossa experiência. Em sua poesia, há uma busca de definições. Evidentemente, não para catalogar as coisas de modo esquemático, mas para atribuir significados, criar cápsulas de sentido. Cápsulas que combinam assertividade e busca permanente. O estranhamento, aqui, deixa de ser o próprio do literário, como pensaram alguns russos em meados do século passado, para ser mais exatamente uma energia, isto é, uma capacidade. É dessa dissonância própria do estranhamento que Nathaly extrai sua voltagem.
(Nícollas Ranieri)
3 poemas de Poemas dissonantes
Gesto
Minha mãe criava peixes
no gesto
incerto
do cesto de flores.
Sereia-partitura
Uma dama enerva
uma harpa.
Toca ao oceano.
Vibra o som silente
do chamado.
Quando foi que perdi
minhas asas?
O intempestivo sugou
o horizonte.
Perdi o leme.
Eu vejo. Mas como
ouvirei?
Icária
A cauda do peixe-fêmea
queria rastejar o chão dos céus.
Alçou voo veemente:
caiu alto, era abismo demais.
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Minibiografia
Rodrigo Luiz Pakulski Vianna em quase quatro décadas já morou em três cidades. Escreve por profissão e prazer, mas de formas diferentes. Ganhador do Prêmio Maraã em 2019, faz parte da turma de 2020 do Curso Livre de Preparação De Escritores (Clipe) – Poesia na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia. É o criador e produtor do podcast poesia pros ouvidos. É jornalista e professor. Já teve poemas publicados em revistas como a Meteöro e Musa rara, além de ter sido destaque na categoria Poesia no Prêmio Palco Habitasul.
Sinopse
Ao ler os versos de Textos para lembrar de ir à praia, livro de estreia de Rodrigo Luiz Pakuslki Vianna, algo nos invade, não sabemos se o mar, se areia, se maresia, se sereia, se pérola, mas de certo somos levados a caminhar por “uma praia que abarca todas/ as ausências que contemos” - praia circular-infinita que oxida a cidade. No oceano de ruínas, é o esqueleto do mar e seus véus de ondas de água-viva que vemos. A paisagem bonita novamente, tocada pela natureza.
(Natália Agra, poeta e editora da Corsário-Satã)
3 poemas de Textos para lembrar de ir à praia
sol de maio
tua respiração se regula na praia
o rigor em cada espaçamento espraias
transformo a palma numa ampulheta viva
lançando o tempo sólido em tua barriga
inebrio o teu incêndio controlado
te torno um castelo de instantes aerados
a ética do riso que te aflora a infância
vindo do desobedecer a constância
perturbo teu horizonte por um lapso
para ver surgir no teu rosto meu máximo
criamos o modo que a perícia perdura
a circunstância tem vida e espessura
dedos costuram candura com areia
nós em recusa do desterro alheios
ao som que a sereia oprime em quem respira
ensurdecendo o cotidiano na lira
a milonga solta de um vento de aço
passageira do que respiro e esgarço
registro o xis na fórmula da anarquia
ares de praia em maio, sol de luz fria
falésia
na beira
da memória constrói um castelo – torres
paredes
não
seguram os pregos dos retratos
(sorrimos no vidro) as cadeiras ao redor
da mesa se movem
os vasos de antúrios ao lado dos discos
girando em busca do som do mar
a cafeteira (fervia ainda cheia)
dissolvendo maresia sobre a pia
de mármore, a cama
coberta por ondas e um lençol
de seda, espuma
esculpindo um tapete
surge uma
claraboia que não
estava
ali
(nos olhos a praia de não ver desertos)
*
o cabelo seco ao sair das águas
e o pássaro na estante
desperdiçam o azul
MENÇÕES HONROSAS
Obra: O instante do acaso
Autor: Alan Resende
Pseudônimo: Andrei Trevisan
Cidade: Laje de Muriaé - RJ
Obra: Pão Só
Autor: Pedro Torreão
Pseudônimo: Zowie
Cidade: São Paulo - SP
Obra: Disparates e carinhos
Autor: Felipe Moreno Costa
Pseudônimo: Camilo Seron
Cidade: Florianópolis - SC
Obra: Sintomas suspensos sobre um corpo ao longo de um dia
Autora: Letícia Becker Savastano
Pseudônimo: Leticia Becker
Cidade: São Paulo - SP
JÚRI
Jucimara Tarricone é pós-doutora e pesquisadora na área de Crítica Literária pela UNICAMP. Doutora em Letras na área de Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP (2007); Mestra em Comunicação e Semiótica: Literaturas, pela PUC-SP (1997) e Especialista em Literatura pela PUC-SP (1998). Tem experiência no campo de Letras, com ênfase em Teoria Literária, e atua principalmente nos seguintes temas: Teoria e Crítica literárias, Literatura Comparada, Literatura Brasileira e Semiótica. É autora de Hermenêutica e Crítica: o pensamento e a obra de Benedito Nunes, 2011 (Edusp/Ed.Ufpa), finalista do Prêmio Jabuti 2012.
Maílson Furtado Viana é autor dos livros: Sortimento (2012), Conto a conto (2013), Versos Pingados (2014) e À Cidade (2018), livro com o qual conquistou o Prêmio Jabuti de Poesia, e também de livro do Ano na mesma premiação, sendo este um dos prêmios mais importantes do Brasil. Nascido em Cariré e morador de Varjota, ambos os municípios na região de Sobral, no Ceará, Mailson formou-se em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará. Em 2006, foi um dos fundadores da Companhia Teatral Criando Arte, na qual é ator e diretor. É membro-fundador do Grupo Literário Pescaria, além de editor e diagramador do jornal Pescaria e da antologia O Cambo. Administrou o blog Improvisos, de 2009 a 2016.
Revista Lavoura é uma revista literária fundada em janeiro de 2017 com o objetivo de divulgar a literatura brasileira contemporânea e fomentar a crítica e a discussão literária. Seu corpo editorial é formado por:
André Balbo, autor dos livros de contos Eu queria que este livro tivesse orelhas (Oito e meio, 2018) e Estórias autênticas (Patuá, 2017). Cursou Direito na USP, onde foi repórter, colunista e editor-chefe do jornal Arcadas. Dedicou-se aos estudos em Hermenêutica e Direito & Literatura, aprofundando-se na obra de William Shakespeare, estudo que originou uma monografia de filosofia do direito indicada ao Prêmio Jovem Jurista (FDUSP, 2016). Também passou pela Folha de S.Paulo como trainee de Ciência e Saúde, onde publicou notas e matérias no caderno Cotidiano.
Arthur Lungov é poeta e editor, autor dos livros de poesia Luzes fortes, delírios urbanos (Patuá, 2016) e Corpos (Quelônio, 2019), que foi contemplado pelo 2º Edital de Publicação de Livros da Prefeitura de São Paulo; e da plaquete Anticanções (Sebastião Grifo, 2019). É advogado formado pela USP, onde apresentou tese que explora a narrativa de ficção como exercício da desobediência civil, com enfoque no livro de contos Luuanda, de José Luandino Vieira, relacionando-o à Guerra de Independência de Angola. Atualmente cursa Letras na FFLCH-USP.
Lucas Verzola é autor de São Paulo Depois de Horas (Patuá, 2014), finalista do Prêmio SESC de Literatura 2014 na categoria contos; de Em Conflito com a Lei – Submundos (Reformatório, 2016), com apoio do ProAc 2015 – Governo do Estado de São Paulo, na modalidade “criação literária – prosa”; e de A última cabra (Reformatório, 2019). Formado em Direito pela USP, onde também cursou História, é especialista em direito penal e processual penal, e assessor no gabinete da vice-presidência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Anteriormente, passou pela Folha de S.Paulo e pela Publifolha, tendo atuado como redator, repórter e editor-assistente. Em 2018, lançou o projeto Álbum de Família, que reúne contos curtos realizados a partir de fotografias antigas de sua família. Desde 2019 é pós-graduando em direção teatral pela Faculdade Paulista de Artes.